Reatores UASB

Dilemas superados dos reatores UASB?

Apesar dos grandes avanços e das reconhecidas vantagens da utilização de reatores UASB para o tratamento de esgoto no Brasil, notadamente em função de seu elevado grau de compacidade, da baixa produção de lodo excedente (já adensado e estabilizado) e dos baixos custos operacionais (demanda energética praticamente nula), a tecnologia vem passando por vários questionamentos técnicos, tanto construtivos quanto operacionais, que impedem seu ótimo desempenho .

Nesse texto, resolvemos revisitar a importante publicação do colega Marcelo K. Miki, intitulada “Dilemas do UASB” (Miki, 2010), que trouxe à tona problemas e dilemas constatados principalmente na área operacional. As reflexões trazidas na publicação tinham como objetivo iniciar uma discussão crítica acerca das melhorias necessárias na concepção dos reatores UASB, face às experiências de insucessos vivenciadas até meados da década passada, sendo que várias persistem até os dias atuais. De maneira bem resumida, Miki (2010) apontou os seguintes problemas principais: i) elevação dos custos (com válvulas automatizadas ou com recursos humanos) quando se amplia a escala de atendimento dos reatores; ii) remoção inadequada de sólidos e gordura no tratamento preliminar; iii) sistema de distribuição que não garante a desobstrução, individualizada, de cada ponto de aplicação de esgoto no fundo do reator; iv) acumulação e dificuldades de remoção de escuma; v) prós e contras dos compartimentos de decantação abertos e fechados, notadamente em relação a aspectos de corrosão e emissões odorantes; vi) medidores e queimadores de biogás; vii) gases residuais e perdas de metano; viii) pós-tratamento.

Igualmente preocupados com a “situação” prática vivenciada pelo colega Marcelo Miki e por diversos outros profissionais que atuam na área, participamos de um esforço coletivo que buscou identificar e apontar soluções para os principais problemas relacionados à utilização dos reatores anaeróbios tipo UASB para o tratamento de esgoto sanitário. Fruto desse esforço coletivo, que teve a participação de mais de uma dezena de técnicos e acadêmicos com experiência no tema, no Brasil e no exterior, publicamos, respectivamente em 2018 e em 2019: i) a coletânea de notas técnicas “Contribuição para o aprimoramento de projeto, construção e operação de reatores UASB aplicados ao tratamento de esgoto sanitário” (Chernicharo & Bressani-Ribeiro, 2018)[1]; e ii) o livro “Anaerobic reactors for sewage treatment: design, construction and operation” (Chernicharo & Bressani-Ribeiro, 2019). Nessas duas publicações foram consolidados os diferentes problemas, suas origens, e também os aprimoramentos necessários nas etapas de projeto, construção e operação dos reatores UASB. Ainda, destacou-se o papel central da tecnologia para se alcançar o fechamento de ciclos (economia circular) e a sustentabilidade no tratamento de esgoto.

E que balanço pode-se fazer atualmente, após a chamada de atenção para os problemas e dilemas dos reatores UASB, mas também frente aos avanços conseguidos nos últimos anos para o aprimoramento e a utilização segura da tecnologia?

Em nossa opinião, apesar de todo o avanço conseguido e da vasta literatura técnica disponibilizada nos últimos anos, ainda existe uma importante defasagem entre a disponibilização e a efetiva apropriação do conhecimento gerado, uma vez que “vícios” de projeto, construção e operação de reatores UASB ainda são observados na prática. Nesse sentido, entendemos que  é premente uma atuação mais assertiva dos gestores das concessionárias de saneamento, que são as beneficiárias e usuárias finais da tecnologia, no sentido de garantir que o conhecimento disponível na literatura técnica nacional seja incorporado à cadeia de concepção, projeto, construção, operação e manutenção de suas plantas de tratamento de esgoto baseadas na tecnologia de reatores UASB.

Essa talvez seja a forma mais rápida e efetiva para se “quebrar” o ciclo vicioso que se estabeleceu ao longo dos anos e que contribui muito negativamente para a perpetuação dos referidos “vícios”. Mas, para isso, é necessário que também os gestores estejam atualizados e sintonizados em relação aos avanços conseguidos, para que eles próprios possam incentivar e investir na capacitação dos demais níveis de profissionais (e também empresas) envolvidos nas etapas de projeto, construção e operação de reatores UASB aplicados ao tratamento de esgoto sanitário.

Referências:

CHERNICHARO, C.A.L.; BRESSANI-RIBEIRO, T. (Editores). Contribuição para o aprimoramento de projeto, construção e operação de reatores UASB aplicados ao tratamento de esgoto sanitário –. Revista DAE, v. 214, n. 66, 2018.

CHERNICHARO, C.A.L.; BRESSANI-RIBEIRO, T. (Editores). Anaerobic reactor for sewage treatment: design, construction, and operation. IWA Publishing, Londres, Reino Unido. 2019.


[1] https://revistadae.com.br/site/artigos/214; https://abes-dn.org.br//pdf/ESA_Notas_v1n1_DOI_ compressed.pdf;

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